"Se é triste sentir saudade, muita saudade de alguém, maior infelicidade é não tê-la de ninguem, assim dizia a doce Colombina"
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Isso é mais forte. Isso basta!

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Caixinha de Música


 
Houve um momento em minha vida, em que a minha caixinha de música, tinha parado de tocar; não sei se foram às pilhas, que com o tempo foram se gastando ou se os meus ouvidos estavam ficando tão surdos, ao ponto de que eu não conseguisse mais ouvi-la tocar.
Então, em um ato quase sem pensado resolvi doá-la, não me importei mais com a dança da bailarina, com a sua textura de veludo por dentro, com as jóias preciosas que ao longo do tempo eu fui ganhando com amor, comprando com esforço... Simplesmente estava agindo como se ela não existisse, como se eu nunca a possuísse; mas dentro de mim eu ainda sentia a música tocar. Cheguei a comprar outras caixinhas de música, mas elas sempre estavam com algum defeito, no inicio pareciam perfeitas, a música soava alto, a bailarina nunca parava de girar, mas não dava mais que uma semana para toda essa alegria de escutá-la acabar, elas pifavam, a bailarina quebrava, o espelho caia, então comecei a entender o significado da minha primeira caixinha de música, aquela antiga e preciosa que eu havia ganhado da vovó, e acabei percebendo que eu havia perdido não somente “uma caixinha de música normal”, havia perdido algo raro, algo insubstituível!
Tentei resgatá-la, procurei em todas as lojas, em todos os artesanatos, mas não a encontrara, fiquei tempos escutando somente o meu choro, e a música dela dentro de mim. Até que houve um dia em que conversando com uma amiga, ela me falou que em uma de suas mudanças de apartamento, ela havia encontrado uma coisa que eu adoraria ver..eis que ela vem com a minha caixinha de música em mãos, ela falou que tinha ido em uma loja de objetos antigos, e que havia ficado fascinada com uma caixinha de música e resolveu levá-la para casa, mas percebeu que nela estava faltando algo, mas não quis devolve-la, ficou com ela mesmo assim, mas como estava sempre indo de um lugar para o outro não tinha notado que com o passar do tempo devido as mudanças de casa, a caixinha tinha ficado mal cuidada, suja, quebrada, mas não quis colocá-la fora; então depois que eu a descrevi ela lembrou-se de que era a mesma. Na mesma hora a agradeci e a levei para casa, na esperança de ouvi-la tocar.
Arrumei a sua pintura, coloquei um espelho novo, concertei a bailarina, limpei seu veludo por dentro, fiz de tudo para com que ela parecesse nova novamente, havia chegado o momento de ouvi-la tocar, mas ela não tocou; faltava a ultima peça, a borboleta, que faz a corda girar e tocar, eis então o motivo que ela nunca tocou completamente com outra pessoa, poderiam até colocar uma outra borboleta para tentar dar corda nela, ela tocava, mas em seguida parava e assim tinham que ficar dando corda e mais corda até com que ela estragasse novamente, mas com a borboleta original dela, a borboleta perfeita, com apenas um giro de corda, ela tocava a noite toda, e embalava os meus mais lindos sonhos de infância, sem precisar de muito! Mais eis a minha pergunta, aonde eu havia colocado a tal borboleta para lhe dar corda?! De que adiantou todo o meu esforço e dedicação em arrumá-la, se a peça chave estava faltando? Seria eu assim, tão incapaz de tê-la para mim, ao ponto de ter que devolve-la ao antiquário que minha avó havia comprado a muito tempo atrás? Não, eu procurei até onde eu pude, procurei em lojas dos mais raros objetos, em oficinas das mais diversas coisas, em lugares onde vendiam as maiores relíquias, e nada da borboleta do encaixe perfeito encontrar. Procurei nos meus objetos de infância, nas minhas caixas de lembranças, procurei até mesmo no sótão e nada de encontrar; resolvi ligar para a vovó, para ver se ela poderia me ajudar, eis então, com sua voz cansada ao telefone ela me fala: - Minha querida e amada neta, não te preocupes em achar a borboleta perfeita para dar enfim a corda na caixinha de música, você não precisa dela para poder sentir a música tocar dentro de você ou então ver a bailarina dançar. Na mesma hora eu a questionei: - Como assim vovó, é impossível fazer a caixinha tocar por mais que alguns instantes se não for com a borboleta perfeita, a senhora vai me desculpar, mas não tem como, eu nunca mais vou ouvi-la.
No mesmo instante comecei a chorar, foi então que vovó me falou uma das coisas que guardo até hoje comigo: - Não chore minha querida, a vida nem sempre nos permite termos tudo o que amamos; possuirmos tudo o que desejamos, às vezes, temos que deixá-los livres para cumprirem com o seu destino, quem sabe a hora da bailarina descansar não chegou, ela te acompanhou por tanto tempo, e te ensinou o valor de muitas coisas, mesmo arranhada, mal cuidada, quebrada, ela esteve ao teu lado, mesmo no momento que você não a quis, ela não deixou de tocar, depois quando a recuperou você fez o que pode; isso não significa que você não a queira ou que não se importe com ela, significa que por amá-la demais não quer que ela se estrague aos poucos dando corda com uma borboleta qualquer, você ainda a quer inteira, renovada, esperando que alguém, algum dia, chegue com a borboleta perfeita, para então ela dar corda e enfim  tocar e dançar sem mal algum.  Fique tranqüila que você não precisa da borboleta perfeita para saber que a música e o embalo dela nunca lhe deixarão, pois eles sempre tocarão dentro de você, ela já faz parte da sua história, faz parte de quem você se tornou hoje, ela fez e sempre fará parte da sua essência e do principal; da sua vida!

Ás vezes é necessário abrirmos mão de algo que amamos para o próprio bem desse algo, seja um amor, um familiar, um sentimento, um amigo. Isso não quer dizer que ao fazer tal ato, você seja um covarde ou alguém que não possua persistência, isso significa que você não é egoísta e que sabe que por mais que vá sofrer agora, no futuro, irá dar possibilidades dessa pessoa ou desse sentimento, encontrar novos rumos, livre de culpa, livre de mentiras, aberto a coisas novas, livre de sentimentos ruins e cheio de esperança. Cada pessoa que entra na nossa vida nos ensina algo, deixa sua marca em nossa trajetória, marcas que tempo algum pode apagar.

autora: Helena Dornelles

Um comentário:

  1. Fiquei emocionada com o seu texto! Parece que vc escreveu para mim. Do inicio ao fim, de fato é uma longa história...Mas vou resumi-la. Acordei hj com o som da caixinha de música, muito parecida com essa sua, na minha cabeça. Minha tia que me criou tinha uma dessas e eu era apaixonada por ver a bailarina dançando e ouvir aquela música que tocava fundo minha alma.Eu lembro dela até hj depois de quase 35 anos. No final fui morar com meus tios, mas nunca mais tive coragem de ouvir a caixinha de música e a bailarina dançando... Nunca mais!! Um dia eu acho que eu já tinha uns 27 anos, eu a peguei, ela tbm tinha seu probleminha, mas eu coloquei a bailarina e dei corda.Quando ouvi a música tocar, me lembrei daqueles dias de minha infância ao lado deles, até mesmo antes de eu ir morar com eles.Me deu um nó na garganta, já tinha se passado tanto tempo...Eu imaginava outra coisa quando eu era criança...Enfim, disse td. Tem coisas que pede pela libertação para que a história continue...Bjs td de bom para vc! Amei o texto...saudades do som da caixinha, mas ela está aqui...dentro da minha mente e coração!

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